O que eu não entendo sobre o amor
Mais um dia em Lisboa, e eu aqui, sozinho no apartamento 48, para variar. A Fátima não veio trabalhar hoje, e amanhã também não virá, pois é a sua folga. Deve vir trabalhar no fim de semana. Ela costuma vir aqui pelo menos três vezes por semana, como já mencionei anteriormente.
Estou sozinho, ainda a sentir profundamente a ausência do Hércules, o meu cão de estimação, que faleceu há dois anos. Hoje, a navegar pelas redes sociais, acabei por visitar o Instagram da minha ex-namorada, a Estefânia. Tivemos um relacionamento de cinco anos, mas terminámos há outros cinco anos. Bem, na verdade, foi ela quem terminou. Se fosse por mim, acredito que ainda estaríamos juntos, talvez até casados e a morar aqui no apartamento 48.
As coisas do coração são complicadas, e eu não percebo muito sobre o amor. Confesso que ainda tenho um carinho especial pela Estefânia. Apesar de já não estarmos juntos, admiro-a como mulher e como pessoa. Sempre me tratou bem, e conseguimos manter uma amizade após o fim da relação. Hoje, ela está num novo relacionamento e eu continuo sozinho.
Nestes cinco anos, não consegui avançar com outro relacionamento. Comecei alguns, mas nenhum durou mais do que uma semana ou quinze dias. Por várias razões, não resultaram. Talvez me tenha habituado à solidão, ao meu espaço e à liberdade que ela traz.
Agora, o que eu não entendo sobre o amor é por que as pessoas têm esta necessidade de apagar o passado. Deixe-me explicar: até dois anos depois de terminarmos, a Estefânia ainda tinha fotos nossas nas suas redes sociais. Fotos de viagens a Nova Iorque, Nova Orleães, Itália e momentos especiais. Contudo, quando começou o novo relacionamento, começou também a apagar algumas dessas imagens.
Ao revisitar o perfil dela, percebi que recentemente apagou todas as fotos restantes. Não ficou uma única memória visível de nós dois. Foi como se ela quisesse eliminar qualquer vestígio da nossa história.
Entendo que, quando se está com alguém novo, pode não ser adequado manter fotos a beijar um ex-namorado. Contudo, por que apagar tudo? Afinal, essas imagens contam uma história que vivemos juntos. É uma parte do que fomos, e, de certa forma, do que somos hoje.
Penso que não faz sentido apagar algo que está gravado na nossa memória. Mesmo que eliminemos as fotografias, não conseguimos apagar as lembranças. Elas permanecem connosco, para sempre.
Eu ainda mantenho algumas dessas fotos. Não sei se algum dia as apagarei. Talvez fale com ela sobre isso, mas o que realmente não entendo é esta necessidade de apagar o que foi vivido, como se nunca tivesse acontecido. O amor não devia ser algo que apagamos, mas algo que guardamos com carinho, mesmo que tenha terminado.